
NUNCA NA HISTÓRIA DESTE PAÍS
Neste momento de profundas transformações por que vem passando nossa sociedade, onde a era do conhecimento tomou o lugar da revolução industrial, e tem sido o principal componente de diferencial competitivo para países, empresas e instituições, uma classe importante da sociedade brasileira, primordialmente geradora desta informação e conhecimento, vem sendo tolhida cada dia mais de seu grande potencial.
Ela está sendo afastado dia após dia do seu ideal, e a sua principal matéria prima está se perdendo e ficando cada vez mais distante e obsoleta. Como numa maratona, esta classe se vê correndo exausta enquanto seu oponente abre cada vez mais vantagem à sua frente. Muitas vezes ela se sente até mesmo como um mergulhador cujo oxigênio está se esgotando e tenta submergir a todo custo, mas percebe estar tão fundo que teme não ter forças pra chegar à tona.
Como isso pode acontecer? Simples! Para se ter uma idéia do que é o universo que estes profissionais vivem, vamos parafrasear o nosso querido Excelentíssimo presidente Lula: “nunca na história deste país” se entregou tanta obrigação acessória quanto no mês de Fevereiro e Março de 2010: Dirf, Rais, GIAM, GIA-ST, DCTF, DACON (mensal e semestral), DIF, DIEF, GFIP, CAGED, Informe de rendimentos, Declaração do Simples Nacional, PJ Inativas, RAIS negativa, SPED FISCAL e autenticar o Livro de registro de inventário.
São simplesmente mais de 100 declarações diferentes, cada uma com um prazo menor, uma multa maior, uma necessidade maior de dados e informações redundantes, para informar em sistemas arcaicos e improdutivos feitos por quem não dá a mínima para quem vai utilizá-los tampouco para a natureza. É o que acontece, por exemplo, com os sistemas da Receita Federal e Caixa Econômica, que ao contrário da lógica, não podem ser instalados em servidores; são, como nos tempos do DOS, mono-usuários; muitas vezes não aceitam um simples “CTRL C” “CTRL V” ou, para dizer que não houve movimento imprimem até 10 páginas.
Ah, não contem pra ninguém viu, mas no caso da caixa econômica (SEFIP) você precisa imprimir uns 10 relatórios de uma mesma guia 1 de cada vez. E pra dizer que não tem movimento.... é claro!! Não podia deixar de ser: lá se vão mais 8 páginas. Quem foi que disse que há que se poupar árvores?
Há lugar pra todos, assim temos representantes nos estados e municípios também, como exemplo obrigações estaduais mensais e anuais que, ao contrário do que prega a lei geral da micro e pequena empresa (garante tratamento diferenciado e favorecido a estas), insistem em imputar mais declarações, sob o argumento de que é necessário controlar impostos já retidos e diferenças de icms de outros estados. E tome multa de até R$ 1.000,00 por empresa em caso de atraso e/ou falta de informações.
Ah mas não é só isto, também não podemos esquecer, que no mesmo período, é necessário fazer a Apuração de impostos tais como ICMS, ISS, IRPJ, CSLL, PIS, COFINS, INSS, FGTS e suas respectivas retenções. Mas calma, ainda sobrará tempo para fazer o LALUR, fechar o balanço, o cadastro para o banco, mandar informações para o IBGE e para a SERASA, fazer 10 admissões pra um cliente e em seguida demitir 8, fechar a folha. Ufa!!!!!
Mas se não bastasse isto, até a nossa companheira e revolucionária internet, tem sido subvertida contra nós, pois são tantas declarações acessórias a entregar, em tão curto espaço de tempo, que os sistemas on-line, muitas vezes, estão congestionados, leeentos, ou simplesmente, dão pane e não funcionam.
Claro que todos já deduziram de que classe profissional estamos falando. Sim, minha gente! É dela mesma: a classe dos contabilistas. Este profissional tão importante para nosso país, para nossas empresas e nossa sociedade, está sendo subjugado a viver como na era industrial “apertando parafusos, botões e manivelas” com tantas obrigações acessórias. Com isso não tem condições plenas para desenvolver o papel mais nobre de sua profissão que é levar informação e conhecimento ao seu principal público: as entidades, sejam elas privadas ou públicas e ainda as pessoas físicas. É humanamente impossível se extrair, avaliar e transformar em conhecimento os fatos contábeis registrados neste iterim entre uma declaração e outra.
Mas pra quem acha que eles estão querendo “jogar a toalha”, muito pelo contrário. É como dizia Raul Seixas em uma célebre música: “... porque eu também sou um cidadão latino- americano que também sabe se lamentar”. Assim, este é apenas um desabafo de uma classe que ama o que faz, e gostaria de poder oferecer muito mais por seu país, de ter o devido respeito de quem faz as leis e dos entes arrecadadores e fiscalizadores, que as regulamentam, e contar com condições dignas de trabalho. Não ficando imerso em tanta obrigação acessória, podendo então contribuir de forma mais efetiva em sua profissão.
Contabilista, não se resigne, quem pode lutar e brigar para mudar esta realidade é você. Você é o responsável por cada centavo arrecadado pelos governos, por cada balanço fechado nas várias instituições e entidades, por assegurar o crescimento de tantos empreendedores, por ser a mola da sociedade, dando transparência, confiabilidade e segurança às demonstrações contábeis que assina.
Somente por meio de uma mobilização, união e cooperação é que o contabilista mostrará o seu devido valor cumprindo papel fundamental na sociedade, tendo o merecido respeito daqueles à quem está obrigado a subsidiar das informações para fiscalizar.
Ronaldo Dias Oliveira, é Diretor da Brasil Price Gestão Contábil Ltda.
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