
Darwin, Guru da Administração?Imagine a seguinte cena: Uma empresa de outro estado compra mercadoria em São Paulo. Um minuto depois de emitida a nota fiscal pelo fornecedor, o cliente recebe sua nota fiscal via Internet. Os produtos são despachados pela transportadora, passam pelo posto fiscal no estado destino, onde o agente do fisco, por meio de leitor de código de barras, confere os dados da nota fiscal via Internet. O cliente finalmente, após receber e conferir suas mercadorias, com poucos cliques de mouse, automaticamente, dá entrada em todos os itens da nota no seu estoque, escrita fiscal e contabilidade, sem necessidade de qualquer digitação de dados. Lembrando ainda que em toda esta transação nenhuma nota fiscal foi impressa, carimbada ou lançada, simplesmente não existiu este documento em papel, apenas no mundo digital.
Veja também o caso de duas empresas que fecham um contrato, a primeira assina-o digitalmente e envia para seu cliente via e-mail. Este recebe via Internet tal documento e também o assina digitalmente. O contrato não tem como ser modificado por nenhuma das partes após a assinatura. Também não precisará ser impresso ou ter firma reconhecida em cartório, pois já tem validade jurídica no meio digital.
Estas duas situações ilustram fatos reais, que estarão cada vez mais presentes em nosso cotidiano. A nota fiscal que não existe no papel é chamada de e-NF (já utilizada por grandes empresas em estados como GO, MA, SP, RS e pela prefeitura de São Paulo). Já os contratos podem ser feitos em processadores de textos simples (Word), e assinados por meio de certificados digitais (E-CPF ou E-CNPJ), que são outorgados por órgãos certificadores como Serasa, Serpro, Certisingn etc.
Você deve estar se perguntando: - Mas afinal, o que tem Darwin a ver com isto? Calma, teremos as respostas após algumas reflexões.Vejamos:
Pensemos em quanto será reduzido nos custos das empresas com a eliminação da nota fiscal em meio papel? Qual será o ganho em produtividade? Quantas árvores serão poupadas e preservadas? Quanto não aumentará a arrecadação do governo com a diminuição da evasão fiscal? Quanto não será economizado com a eliminação de autenticações e reconhecimento de firmas em cartórios?
Agora analisemos a questão por um outro ângulo. Consideremos os impactos negativos que essas mudanças podem provocar no ambiente de negócios de determinados setores. Baseado nos fatos relatados, como reagiriam gráficas frente à perca de receitas com a impressão blocos de notas fiscais? E no caso de algumas empresas, que algumas vezes por falta de gestão eficiente não conseguem cumprir adequadamente suas obrigações fiscais? E os cartórios, como enfrentariam a eliminação de uma das suas principais fontes receitas: o reconhecimento de firmas e autenticações de documentos?
Dilemas parecidos vivem hoje empresas de outros setores como os de TV a cabo, locadoras de DVD´s, companhias telefônicas, gravadoras e empresas de entretenimento. Com a disseminação da Internet, compartilhamento e distribuição gratuita de vídeos via rede, aluguel de filmes on-line (que são apenas baixados para um computador), músicas em formato MP3 vendidas uma a uma em sites, e o uso disseminado do VOIP (ligações telefônicas gratuitas ou mais baratas via internet); como estas empresas conseguirão manter seus antigos modelos de negócios?
Vejam outros exemplos que certamente impactam negativamente em empresas que vendem softwares (os programas para instalar em computadores). Empresas como Google, Yahoo e outras, já estão num movimento em curso chamado Web 2.0, que oferece planilhas eletrônicas, processadores de texto, agendas, sistemas integrados de gestão (ERP), programas de CRM (Customer Relationship Management, que significa em português Gestão de Relação com o Clientes) e uma infinidade de outros serviços que não necessitam ser instalados nos computadores dos clientes, eles rodam em servidores de Internet ao redor do mundo, estão sempre prontos para usar, podem ser acessados em qualquer parte do planeta e por vários tipos de hardwares: como computadores, celulares, palmtops, smartphones, PDA`s, etc).
Esta Web 2.0 não incomoda somente os pequenos, a gigante de software Microsoft está sendo obrigada a lançar o sistema Office Live, seu pacote de escritório contendo Excel, Word, Power Point, no modo on-line, sem precisar instalar nada no micro, para tentar recuperar o tempo perdido nesta área.
Quanto não representará de economia para as empresas a queda nos gastos com suporte técnico, manutenção em sistemas, compra de licenças, atualizações, backups, compra de máquinas mais potentes e caras para rodar os programas cada vez mais exigentes; nada disso será necessário se utilizando das soluções on-demand (on-line).
Talvez isto pareça muito distante, complexo e rápido, não é mesmo? Mas será que sua empresa está preparada para o que está por vir? Será que poderá ser afetada por alguma nova tecnologia? Será que vai resistir a um ambiente de negócios tão hostil e mutante?
As respostas dependerão de quanto sua empresa é receptiva às mudanças. Hoje não necessitamos de uma mudança de cultura, na verdade precisamos viver uma cultura de mudanças, e esta cultura é condição sinequanon para potencializar a perenidade de nossas organizações. Repetir o que deu certo no passado, se apegando a paradigmas ou experiências acumuladas, por si só, não é mais garantia de sucesso. As inovações e os avanços científico/tecnológico farão com que muitos setores e empresas tenham que ser totalmente reinventados e/ou redesenhados se quiserem sobreviver à nova realidade e permanecer no mercado.
Empresas e empresários precisam fazer uma constante leitura do que acontece ao seu redor. Não basta saber como está seu concorrente, é necessário saber inclusive o que está acontecendo com o seu setor ou até outros setores totalmente diferentes do seu, muitas vezes até mesmo em nível internacional. Pois o que acontece lá fora fatalmente ocorrerá aqui, afinal vivemos em um mundo globalizado e quem não estiver preparado terá menos chances de sobrevivência.
Mais do que nunca a teoria da evolução das espécies, de Darwin, está em voga no mundo dos negócios. Portanto, sejamos eternos mutantes, para que possamos ser artífices da evolução de nossas empresas. Pois, como dizia a teoria de Darwin, “Quem sobrevive não é o mais forte ou o mais inteligente e sim quem melhor se adapta às mudanças”. Pense nisto e até a próxima.
Ronaldo Dias Oliveira é Contador, Auditor e Consultor de empresas nas áreas de TI, Estruturação Organizacional, e Diretor-Presidente da Brasil Price Consultoria e Assessoria Contábil em Araguaína-TO.